quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A televisão RTP e a série Cupido Electrónico

Estávamos a assistir ao nascimento de uma nova era na televisão portuguesa. As séries narradas e faladas em português eram uma linha orientadora. Apresentar conteúdos inovadores em português era uma prioridade.

O Cupido Electrónico é apresentado na RTP em horário nobre entre os dias 15 de março e 07 de setembro de 1993. Inicialmente esta série foi exibida no Canal 1 às segundas-feiras e depois às terças.

Na primeira vez que a série foi exibida foi retirado o penúltimo episódio, que é intitulado «A roupa do rei». O motivo desta supressão foi a entrada de uma nova grelha de programação na RTP na semana seguinte à exibição de Cupido Electrónico.

A série foi exibida posteriormente em 1994, por duas vezes no Canal 1, de segunda-feira a sexta no horário da tarde. Entretanto já foi reposta no canal RTP Memória. Entre 2004 e 2005 foi mostrada neste canal da televisão por cabo aos sábados no horário da tarde. Em 2009 foi exibida no mesmo horário, em 2011 aos sábados de manhã e em 2012 às terças-feiras à tarde.

É uma interessante série, que contêm riqueza linguística e explora a comédia de situação. Os autores do texto, à data da produção, afirmaram numa entrevista que fizeram uma pesquisa detalhada sobre a questão linguística. Exploraram as diferenças entre a língua portuguesa falada e escrita, tanto em Portugal, como no Brasil. É sem dúvida um trabalho notável e digno de investigação académica. Com um rigor típico de autores que vêm do teatro.

Com a democracia ainda jovem em Portugal, haviamos saído de uma ditadura de programas fascizantes. E estávamos numa época de transição. A exibição das telenovelas brasileireiras em horário nobre era uma singularidade portuguesa face à Europa.

O Cupido Electrónico surge num momento fértil de produção de conteúdos falados e narrados em português. De forma divertida e com ironia, este seriado televisivo apresenta-nos algumas quezílias habituais entre alguns portugueses e brasileiros. Trata também os temas das heranças e dos jogos de interesses, no domínio de vários capitais. A acção decorre em um Shopping. É na loja de uma das personagens que há os encontros entre personagens e que se desenrola a trama. 

Nenete é dona de uma botique de noivas no Brasil. Após descobrir que o seu marido tem uma amante, Nenete pede o divórcio. Quando da separação - e aqui surge um tema que é novidade em Portugal - o seu marido reivindica uma claúsula contratual que a proíbe de abrir qualquer boutique de noivas no Brasil. Fazendo-se acompanhar do seu costureiro Roberto (com quem mantêm uma relação amorosa), muda-se então para Portugal. Abre uma agência de matrimónios. Escolhe um Shopping em Cascais. E aqui está também um tema interessante. A novidade do tratamento automático de dados em Portugal e a exploração da informática como maneira de encontrar parceiros para relacionamentos. Uma série que estava à frente do seu tempo.

Cardoso é o administrador do Shopping. E perde-se de amores por Nenete, que já conhecia anteriormente e já havia tido um caso. A proprietária desta loja peculiar tem todo o interesse em manter algumas regalias que este lhe dá. Então esconde dele o seu relacionamento com Roberto. Este último faz-se passar por gay. São inúmeras as cenas em que, quando Cardoso visita Nenete na loja, Roberto faz-se de homossexual para este não desconfiar.

De entre as várias personagens, temos também Balbina, que é irmã de Cardoso. Esta senhora refere-se a Nenete como a «sirigaita». Com a ajuda dos seus afilhados (Lurdes e Nuno) tenta sabotar o sucesso da agência matrimonial com vista a afastar Nenete do seu irmão.

Entretanto com o nascimento da SIC, primeira estação de televisão independente em Portugal, havia terreno fértil para a descoberta de novos caminhos.

A SIC tem a sua primeira emissão no dia 6 de outubro de 1992. Por esta altura, já a RTP - Rádio Televisão Portuguesa - não está sozinha no mercado. E mais tarde, em outubro de 1993 surge a TVI com emissões regulares.

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